Novo conto da Dama e o Vagabundo

plenty of colour
        Eu te encontrei na rua. Perdido, se protegendo da chuva com um jornal na cabeça. Você não resistiu a chance de jogar-se para cima de mim com teu sorriso encantador e tua fala mansa que me deixa arrepiada. Foi difícil, baseado no meu último romance. Mas você estava ali, me conquistando com seu olhar e acabei não resistindo e me jogando contra o foda-se da vida. Agarrei você e da mesma forma que agarraria uma criança desprotegida, e te levei para casa.

Você foi ficando, conquistando seu espaço, construindo sua monarquia em cima daquilo que eu te ofereci. Meu corpo, meu sexo, meu amor e carinho. Você foi ficando e parecia que gostava mesmo de estar ali. De ficar, de ser de alguém, ter uma dona, abaixar o rabo e obedecer as vezes. Essa vida a dois, sempre surpreende, porque eu realmente achei que você gostasse de ficar ali no seu cantinho enquanto me observava fazer o jantar.

Sempre dizia que eu era sua linda enquanto eu estava na poltrona e lia o último lançamento que comprei quando fomos a livraria. Me irritava, todas as vezes, que eu tentava ficar sozinha no meu canto, com cutucadas na costela e sexo provocativo. Ah, meu Deus! Como você me provocava. Com sua barba rala roçando meu pescoço e suas mãos fortes que me apertavam pela cintura fria numa noite de julho. 

Anotei todas as vezes que disse amar meu beijo, minha boca e sua nova vida ao meu lado. Não tive medo de me jogar nesse romance porque, dessa vez, eu realmente acreditava que daria certo. Até porque parecíamos feitos um para o outro.

Até que chegou o dia em que você não estava mais do lado esquerdo da minha cama, respirando alto ao pé do meu ouvido. Eu deixei a porta aberta e você saiu correndo como um cachorro de rua em busca de liberdade. Você foi se perder em outros corpos, fuçar em outros lixos e procurar outros braços. 

Estou tentando me tirar a culpa de ter te deixando partir, mas eu sei que, no fim do dia, eu acabo aceitando que você, vagabundo, precisava de liberdade. Então levanto a cabeça e engulo o choro, porque eu estou tentando me manter forte, como uma dama.

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