O que eu aprendi com o Tinder



        Dentro de um mundo feito de carências superficiais, autoestima baixas e a necessidade da aprovação e aceitação alheia disfarçados em frases de auto-ajuda como descrição e muito efeito de instagram na foto de perfil, encontramos os tão famosos sites e aplicativos de relacionamento. 

Atire a primeira pedra quem nunca - nem por uma singela curiosidade - criou uma conta em algum desses tinder's da vida. Eu, como curiosa e sem nenhuma maldade no coração que sou, não vi mal nenhum em criar a minha. Algumas fotos cuidadosamente selecionadas, que expusessem meu rosto e corpo no melhor ângulo, uma descrição muito bem elaborada falando sobre o porque você deveria me curtir e a coragem pra clicar em "criar conta". E foi assim que entrei no artificial mundo do Tinder.

Que diabos é Tinder? Se você não faz parte do mundo que carece de gente que goste de você e nunca sequer ouviu falar desse aplicativo, eu explico. Depois de criar um perfil, e selecionar se seus interesses são do sexo masculino ou feminino, uma chuva de pessoas - que também possuam o aplicativo - vão aparecer na sua tela. E cabe a você decidir - de acordo com aparecias e estereótipos - se vale ou não a pena trocar algumas palavras em um chat e até mesmo sair para um encontro. 

E o que diabos eu fui fazer nisso?! 

"Sou bonita e interessante o suficiente pra alguém querer me curtir". Mas o suficiente pra que? Ou pra quem? Pra alguém que não vai trocar mais de "oi, tudo bem?" com você? Não que eu esteja querendo moralizar a coisa toda, porque convenhamos que a sensação de gostar de alguém e ter a reciprocidade de um "like" dá uma sensação maravilhosa na alma e no coração. Uma sensação que não dura mais de um minuto, e depois passa. Passa porque a menos que a pessoa não te ofereça um papo carregado de um vazio enorme, aquela pessoa não vai mudar nada na sua vida. 

Muitas das pessoas que entraram no mundo do Tinder me alegaram que você passa a enxergar o mundo de uma forma diferente. E eu só fui entender isso depois de eu mesma entrar nele. Então afinal de contas o que eu aprendi com o tinder?

O mundo não é formado pelo mesmo tipo de pessoa, e disso todos sabemos. Se todos fossemos iguais, não existiria o preconceito, a desigualdade social, o racismo, a homofobia, a guerra, a xenofobia. E os noticiários como o do Datena ou Marcelo Resende nem sequer existiriam. Se existe algo que aprendi no decorrer do tempo é não preciso  gostar de tudo o que a sociedade tem para me oferecer, mas tenho a obrigação de respeitar. Respeitar gostos diferentes dos meus, opiniões diferentes das minhas, religiões diferentes das minhas, culturas e costumes diferentes dos meus, e por aí vai. E acho que se todas as pessoas conseguissem ter isso em mente, o aprender a respeitar, talvez muitos dos problemas morais desapareceriam e, consequentemente, os físicos também. E o que tudo isso tem a ver com eu baixar um aplicativo de relacionamentos? Tudo. 

Qual é a primeira reação, padrão, do ser humano quando não gosta de alguém ou de alguma coisa, seja pelo motivo que for? Criticar, querer mudar, impor sua opinião sobre aquilo, brigar, e nos casos mais extremos até violentar e matar. Tudo isso pelo simples fato de não concordar.  Homofóbicos, racistas e xenofóbicos extremistas que o digam. 

Não podemos mudar todas as pessoas do mundo só por não serem como gostamos. No Tinder, quando não gostamos de alguém, temos a opção "X" que descarta aquela pessoa e passa para a próxima. Uma solução tão simples pro caso de você não gostar de alguém que deveria ser levado para a vida. Alguém ser feio, mais bonito que você, gordo, magro, gay, hetero, trans, negro, asiático, branco, roqueiro ou funkeiro não vai interferir a sua vida a menos que você interfira na dela. Porque então não apenas ignorar e seguir em frente? Tantas pessoas vítimas de preconceito pelo simples fato de alguém não gostar de como elas são. As pessoas são diferentes e não podemos impor nossas vontades sobre ninguém só por não concordarmos com elas. Façamos como no Tinder então, dê um "X" e continue sua vida. Se não gosta de alguém, não fique perto dele. Se alguém te ameaça tanto assim por sua singela aparência ou gostos diferentes, ignore-o. Mude de lugar. Ninguém é obrigado a ficar perto de quem não gosta. Mas respeitá-lo, sim. 

Aprender a lidar com todos os tipos de pessoas é algo que nos ajuda tanto pessoal quando profissionalmente. Sempre fui o tipo de pessoa que mesmo sendo muito sociável, me restringia a apenas determinados tipos de assuntos ou pessoas. E isso é de total influencia do conhecimento que temos ou a falta dele. Gostamos de falar sobre o que sabemos. Não que a ignorância seja pecado, mas é reversível a partir do momento que nos propomos a agregar coisas novas. Depois de tantos "likes" no Tinder, acabamos por conversar com todo tipo de gente e lidar com todo tipo de assunto, gosto e opinião.

E por falar em aparência, o "julgar o livro pela capa" reina. Perdi as contas dos homens maravilhosos que dei o meu tão sofrido "like" e não me ofereceram sequer um bom assunto ou nível de intelecto, e dos que só curti pela descrição e me ofereceram tardes inteiras de assuntos e diversidade. 

O que aprendi com o Tinder, então, é que um aplicativo nunca é só um aplicativo. Quem diria que um simples aplicativo de relacionamentos realmente me faria mudar a visão que tenho sobre o mundo. 


2 comentários :

  1. Flor, você não acha esse site um pouquinho perigoso, não? Pode até levantar a nossa auto-estima, nisso eu concordo, mas quase nunca sabemos quem são as pessoas que se escondem atrás da tela do computador. Segundo a minha avó, coração dos outros é terra que ninguém anda. Se cuida!

    Big kiss!

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    1. Cuidado é algo que precisamos tomar com toda e qualquer rede social ou aplicativo que temos na internet. Mas essas coisas só oferecem perigo quando nos expomos demais. O que não é o caso haha. Mas obrigada pelo comentário <3

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