Hoje busco-me por aí



        Sou muitas em apenas uma. Muitas formas. Muitas coisas. Muitas personalidades. Muitas mulheres. Muitas cores. Muitas vivências. Sou tudo o que alguém poderia querer, e também tudo o que alguém mais poderia repugnar. Sou tudo em apenas um corpo. Em apenas uma mente. Em apenas um ser.

Sou amor. Sou ódio. Sou desapego. Sou preocupação. Sou paz. Sou terror. Sou indecisão. Sou certeza. Sou tranquilidade. Sou explosão. Sou delicadeza. Sou guerra. Sou lago. Sou oceano. Sou grãos de areia. Sou estrelas. Sou o universo inteiro.

Sou filantropia. Sou feminismo. Sou justiça. Sou luta. Luta pelo direito de se poder ser quem é.

Hoje busco-me por aí. Busco-me pelos mais inesperados cantos. Pelas mais óbvias clarezas. Pelos mais desprezíveis escuros. Busco-me.

Sou muitas que não conheço e me predisponho a conhecer. Mas sou, principalmente, presa ao que já fui um dia e deixei de ser. Fui o que alguém me proporcionou viver. E me prendi a isso de tal forma que me anestesiei. E relutei a perceber.

Isso porque o ser humano tem uma mania desgraçada de querer se prender a algo bom que passou, e não aceitar o que pode vir. A quem pode vir a ser. Não podemos ser a mesma pessoa mais de uma vez. Porque mudamos. Crescemos. E a vida nos dá conteúdo o bastante pra viver em constante exploração e carregar cada experiência dentro de nós, para que nos transformemos. E nunca seremos uma versão pior, a menos que não deixemos que o mal entre. E o segredo é que nos abramos. Nos abramos para o que a vida tem a nos oferecer, para o que nós mesmos temos a nos oferecer, e para o que a felicidade tem para proporcionar, ao invés de nos prender a algo que já passou, e que precisa dar lugar a alguém novo.

E que paremos de nos prender ao passado. E que não aceitemos ser menos do que realmente somos. E que não nos reprimamos, porque quem precisa nos amar, nos amará pelo que transbordamos nas mais profundas essências da alma. E que gritemos pela felicidade, mesmo em público. E que gargalhemos. Nos mais altos tons. E que cantemos. E dancemos. E que sejamos. Porque ser é a coisa mais linda na existência de alguém. E que falemos alto. E falemos bobagem. E que falemos sério. Falemos tão sério a ponto de assustar alguém e fazer rugas na testa. Mas que brinquemos, também. A ponto de não conseguir conter o riso e ter cãibra nas bochechas. 


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