Saudades no plural


Com o tempo a gente se acostuma. Nos acostumamos a sentir saudades, nos acostumamos a viver sem. Eu, por exemplo, até pareço bem. Pena que acho que fui a única que ainda não se acostumou com todas essas mudanças. 
Ainda me lembro de como a tua barba roçava no meu rosto e de como o teu beijo era lento. E gostoso. Eu ainda me sento no nosso lugar da sorveteria, e ainda peço teu sabor preferido de sorvete... Isso, de algum modo, me deixa mais próxima de ti.
Aí eu faço o mesmo caminho que fazíamos até a minha casa. Me lembro de como tu dizias que gostava de demorar para chegar em casa porque queria ficar mais tempo andando de mãos dadas comigo. Mas isso não te impediu de partir. Não que eu esteja reclamando, é claro, é muito mais fácil viver sabendo que você não vai chegar. Isso me deixa cada vez mais quieta, mas também mais avoada. Isso ajuda a acabar com a minha ilusão.
Não digo que não me importo, pois ainda sinto falta do teu calor junto do meu. Sinto falta de quando você sorria apenas com o canto da boca. Sinto falta dos teus beijos na minha testa. Eu sinto falta de você por inteiro. Não sinto saudade, sinto saudades. Muitas saudades.
Sinceramente? Eu não entendo como você conseguiu deixar tudo de lado tão fácil. Você sempre me disse que tinha medo de se apaixonar, mas nunca pensei que você fosse o tipo de pessoa que fugisse dos sentimentos. E não consigo te imaginar assim. Algum motivo deve ter.
Eu guardo tudo comigo, desde as nossas brigas por causa da minha saia, até quando eu tinha que ir te salvar em um lugar qualquer. "Pequena, aqui tá muito estranho, velho". E é lógico que eu corria atrás de ti. Porque você não confiava em ninguém. Costumava confiar em mim.

Mas é como eu disse, uma hora a gente se acostuma. E, enquanto você já tocou a sua vida, eu continuo pensando em ti.

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