Foi te odiando que encontrei o amor que sinto por você


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        Foi em uma tarde de fevereiro. Em um parque onde ninguém ia. Ouvindo uma música que ninguém mais ouvia. E o sol batia no meu rosto enquanto eu sorria de olhos fechados. E do outro lado, batia no seu, enquanto você ria. Ria pra quem estava perto. Ria pro mundo. E a gente não se conhecia 

Há muito tempo eu não conseguia escrever nada. Eu precisava de uma inspiração diferente. Uma inspiração que a agitação de São Paulo não poderia me oferecer. Precisava de um lugar onde não tivesse mais ninguém além de eu mesma, música, meus lápis e borrachas e uma bela paisagem.

Mas só que eu escolhera um lugar que já estava ocupado. 

Aquele foi o lugar em que te odiei pela primeira vez. Imaginei que lá seria onde eu não encontraria mais ninguém. Onde eu colocaria os fones de ouvido e minha única distração seriam os pássaros no céu e insetos na grama. Eu estava deitada atrás de uma árvore, sozinha. Você estava do outro lado, bebendo e rindo com alguns amigos. Você se levantou de onde estava porque achou que conseguiria alguma coisa fazendo companhia a uma desconhecida. Não aceitei. Tentou dar em cima de mim, mas eu já tinha um outro alguém. Tentou vir pra cima, mas eu recuei. Tentou me agarrar, mas eu te soquei. Te soquei com toda a força que eu tinha. Você estava bêbado, então tentei esquecer. Esqueci nada.

Nos encontramos outra vez. Por acaso. Na lojinha do Sr. Joaquim. E você também tentou dar em cima de mim. A segunda vez em que te odiei. Nos encontramos uma terceira, também por acaso, na praia. A terceira vez em que te odiei. Nos encontramos uma quarta, décima, vigésima vez. Todas por acaso. Em todas elas você dava um jeito de ser idiota. Em todas elas eu te odiei.

Um dia, de repente, eu não tinha mais aquele outro alguém. Porque ele também encontrou um outro alguém. Então lá estava eu, sozinha. Sozinha, bebendo, em um bar. Você apareceu e eu achei que te odiaria mais uma vez. Mas você recuou. Recuou porque percebeu. Você não me conhecia, mas conseguia perceber que eu não estava bem. Me pagou uma cerveja e tentou me fazer rir. Então te odiei um pouco menos, por isso. Te odiei bem menos porque tentou me divertir. Te odiei menos ainda quando ficamos bêbados e começamos a dançar em cima do balcão. Deixei de te odiar quando você me trouxe pra casa. Cuidou de mim e cuidou para que minha mãe não percebesse minha embriagues. Desde então, não te odiei nunca mais.

Tempos se passaram e eu voltei a escrever. Escrevia todos os dias. Gostava de escrever sobre as coisas boas. Percebi que me dava muito melhor escrevendo sobre bons sentimentos do que sobre a falta deles. Queria escrever sobre algo bom que eu sentia, e em cada palavra que saía, era você quem eu enxergava. Você, seu egoísmo, sua malícia, sua exalação a sexo, seu moralismo ridículo, seu machismo, sua maldade e o desafio que eu encontrava em você. O jeito como você me fazia duvidar e questionar o mundo.

Acho que foi te odiando que encontrei o amor que sentia por você. Ainda sinto. E vou sentir pra sempre. Eu tentava recuar e não me entregar. Acho que era assim que eu acabava sentindo cada vez mais. Mas você sabia o que queria e não fugia disso. E o que você queria estava entre meu queixo e meu nariz. Talvez entre minhas pernas. Mas estava, principalmente, dentro do meu peito. 

Você chegou do nada. Chegou de fininho. Se aproximou aos poucos. Se aproveitou das chances que o acaso te oferecia e entrou na minha vida. Eu me apeguei. 

Você era o único que ao invés de me abraçar quando eu não estava bem, olhava dentro dos meus olhos e dizia que as coisas seriam difíceis sim, mas que você estaria comigo. E, acredite, isso era bem melhor do que um abraço.

O que eu sentia, pela primeira vez, não era superficial. O que eu sentia não ficava só no apoio moral, carinho e na confiança. O que eu sentia ultrapassava a pele, cravava na pele. Queimava cada órgão meu. Embalava o coração e esquentava o sangue. Sem perceber, fui me entregando e me apaixonando. Você ia me puxando e eu ia me deixando levar.

Diziam que nós eramos uma péssima escolha um pro outro. E eu concordava. Ainda concordo. Mas preciso admitir que ir dormir, sozinha, e acordar com um susto de ter você do meu lado, deitado, olhando nos meus olhos e sorrindo, foi resultado da minha melhor escolha.


10 comentários :

  1. Uol, é um texto muito bom, me fez imaginar tudo e viajar junto!

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    1. Ai é tão maravilhoso saber que consegui fazer alguém viajar em um texto meu <3 Muito obrigada!!

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  2. que texto lindooooo!!!!!!!!!!!!!!! rah parabéns tava inspirada em escrever e escrever por alguém. Belo texto!!!!!! amei de paixão serio

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    1. Obrigada di (: Tava inspirada sim, mas não foi pra ninguém em especial que eu escrevi hahahhah

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  3. Adoro textos assim...Sem ser muito meloso,com algo diferente...Prende a atenção,com um toque fora do normal.Me lembram as músicas da Lana Del Rey...Uma ótima história para ser continuada <3
    Você escreve muito bem!!!
    Beijos da Bia!♥♥♥

    http://www.strelateen.com/

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  4. Uma comparação dos meus textos com as músicas da Lana Del Rey é pra ganhar o dia, mesmo hahahaha. Fiquei muito feliz com seu comentário, muito obrigada pelo carinho <33

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  5. nossa que lindo, da vontade de ler e reler, e ler de novo rssrs <3

    Menina Flor

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    1. Aaaaaaw que fofa, muito obrigada Maria, que bom que você gostou *-*

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  6. ficou ótimo só falta termina pra termina de me fazer bem ;0

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