Ela, toda singela



        Ela chegou de fininho, numa tarde de domingo, em um vestido azul marinho com bolinhas brancas e uma bota marrom de cowboy. O cabelo curto até o pescoço, os olhos claros como o céu, a boca vermelha como o tesão que ele teve ao ver aquela pequena silhueta meio a tantas outras quaisquer. 

Ela, que não dava a mínima para a pose de boa moça e virava uma garrafa inteira de cerveja, sozinha. Arrotava quando bebia refrigerante ou quando comia demais. - Por sinal, ela comia muito, o tempo inteiro. Fazia piadas de humor negro com os seus amigos, transava com quem bem entendesse, sentava com as pernas abertas, mas tinha a risada mais doce que ele já ouvira, o olhar mais encantador de todos que ele já vira, os sonhos mais bonitos que ele já conhecera e chorava sempre que assistia comédia romântica. 

Sem que ele percebesse, ela entrou em todos os seus assuntos com seus amigos, virou a primeira pessoa de seu chat no whatsapp, virou a inspiração de todos os seus sonhos e entrou em todas as melodias que saiam de sua viola.

Sem que ele percebesse, ela o deixou frágil e vulnerável. E, de repente, as músicas favoritas dela ocupavam quase todo o espaço da playlist dele. O seu histórico tinha mais o perfil dela do que suas visitas no redtube ou no youporn. 

Ela, a única com quem você transou olhando nos olhos e sussurrando no pé do ouvido. Ela, a única que não teve vergonha de ficar molhadinha sobre a mesa da lanchonete da esquina antes que você a levasse pro banheiro dos fundos. 

Ela, que te fez esquecer de toda e qualquer importância que sua competência sexual poderia ter. Ela, que te fez perceber que é o tesão e o desejo quem move montanhas. E que "um sexo bem feito" ou "uma boa trepada" - chamem como quiserem - não dependia de roteiro nenhum, mas sim da falta dele. Dependia da espontaneidade. Aliás, ela, que nunca seguiu roteiro nenhum. 

De repente, ela era diferente de tudo e todas que você já conheceu. Pelo simples fato de que ela não fazia questão de ser coisa alguma.

Ele, tão cafajeste e egocêntrico. Ele, que batia no peito pra gritar sua masculinidade. Ele, que podia tudo. Ele, que não tinha nada a perder. Ele, que fez tantas lágrimas caírem por tantos delicados rostos diferentes. Ele, que perdeu toda a pose quando ela chegou.


2 comentários :

  1. Gostei do texto, escreveu bem...Flor passa no meu blog pra conhecer. Se gostar e seguir me dando uma forcinha, retribuo o carinho!
    www.makeolatras.blogspot.com.br
    Bjsss =]

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    1. Ahhh muitíssimo obrigada, viu! E adorei o seu blog, parabéns, tem dicas super incríveis <3

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