Eu não sei se é amor. Não acho que seja. Mas tem muito ódio envolvido. Talvez porque ele carregue mais defeitos do que qualidades que eu gostaria que ele tivesse. Juro, consigo encontrar nele vinte coisas ruins para cada coisa boa. Cada sorriso poderia facilmente ser acompanhado de diversas lágrimas. Cada abraço precede um empurrão. Tantas coisas que me prendem, ao mesmo tempo me afastam. É como acordar em um dia chuvoso, ver alguém ao seu lado e não ter certeza se essa pessoa realmente deveria estar ali.
Nunca tive vontade de estar realmente com alguém. Eu nunca quis me apegar. Cheguei a prometer que não abriria meu coração para ninguém. Acreditei que isso poupava decepções. Foi bom por um tempo. Nunca pensei que uma pessoa, em poucas semanas, conseguiria destrancar meu coração - como se carregasse uma chave mestra. Ele abriu o coração de várias outras, também. Enquanto eu quero ser de um, ele quer ser de várias. Talvez escrever seja a minha forma de colocar para fora o que eu guardo por meses aqui dentro.
Ele sempre foi o tipo de cara que resolvia as coisas por impulso. Aparecia do mesmo jeito que sumia. Sempre deixou várias coisas para trás. Já bateu na minha porta inúmeras vezes sem nem me explicar por que estava ali. Já rolamos diversas vezes nos meus lençóis sem trocar nenhuma palavra antes disso. Já passamos horas juntos só ouvindo a respiração um do outro. E eu sempre senti necessidade de palavras. Palavras sinceras, que demonstrassem realmente o que ele sentia. Talvez ele não sentisse nada. Talvez ele sentisse bem menos do que eu.
Cheguei a um impasse. Eu tenho o meu tempo, mas não tenho todo o tempo do mundo. Eu queria ver todos esses problemas de uma perspectiva diferente da que estou habituada. Dizem que o tempo passa mais rápido quando estamos em movimento. Logo, quando estou aqui acompanhada de uma xícara de café e de meus pensamentos, o tempo parece passar bem mais devagar do que deveria. E é nesse momento que percebemos que o tempo acabou, que não seguimos nenhum dos dois caminhos possíveis e que agora não temos nada.
Passei a maior parte desses últimos meses pensando em como poderia ter sido. Imaginando situações que nunca sairiam da minha mente. Digo isso por que eu sei que ele nunca vai ser o cara que estaria disposto a passar não só o sábado comigo, mas o domingo também. Enquanto a gente pensa, o tempo passa mais rápido do que podemos imaginar. Nem tudo são rosas. É como tentar caminhar numa piscina cheia de gelatina.
Já tentei me desvencilhar disso várias vezes, tentei demonstrar que não me importo, que ele poderia sair com mil pessoas e, quando ele menos esperasse, eu não estaria mais ali. Mas eu sempre voltava, ou ele sempre acabava demonstrando que se importava e não me deixava partir. E, mesmo eu querendo me afastar, eu não conseguia.
Acho que cada pessoa deveria ter o direito de escolher que vida vai levar, que relacionamentos vai seguir. Acho que cada pessoa deveria escolher por quem se apaixonar. Cada pessoa deveria deixar o amor próprio falar mais alto do que qualquer vontade de ter alguém por perto. É um mundo realmente injusto.
E nesse mundo injusto, eu nunca esperei que alguém me fizesse sentir tanta coisa em tão pouco tempo, nunca pensei que alguém conseguisse me preencher tão rápido. Eu nunca tive vocação para Atlas, mas todo esse sentimento tinha o peso de um planeta.
Meu celular começou a gritar com o toque dele. E então ele me avisou que estava chegando, e dez minutos depois eu ouvi três batidas na porta - só ele batia na porta daquele jeito.
Meu coração parou. E eu não abri a porta. Na verdade eu a tranquei para sempre - pelo menos para ele.
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