É difícil ter opinião
sobre um assunto que não está presente na sua realidade. Mas ao mesmo tempo em
que não está presente na minha, está na de mais da metade da população. É
difícil ter opinião sobre um assunto tão conflitante entre todos os seus lados.
Sobre um assunto que ao mesmo tempo em que te abre uma nova chance, te tira
todas as outras. Um assunto que ao mesmo tempo em que te oferece uma vida –
diferente –, te tira outra.
Desde 1984, de
acordo com o Código Penal Brasileiro, o aborto é tido como crime contra a vida
humana. Desde 1984, milhares de mulheres já perderam suas vidas na tentativa de
fazer abortos em clínicas clandestinas. O número de abortos ilegais por ANO
ultrapassa 1 milhão. De um lado, mulheres que não tiveram a chance de escolher
ou planejar uma gravidez. Do outro, mais dedos que grãos de areia apontados
para essas mulheres, carregados de críticas e opiniões baseadas em crenças.
Não tenho uma
opinião formada sobre o aborto, mas o fato é que está chegando em um ponto –
aliás, já passou dele há muito tempo – em que precisamos parar de colocar uma
cortina na frente desse assunto só porque vai contra suas crenças religiosas.
Ter uma opinião sobre algo que não está presente na sua vida é algo bem
diferente do que você passar por essa realidade. O ser humano é um bicho
egoísta incapaz de se colocar no lugar do outro, porque o que vale são seus princípios
e os de mais ninguém. Porque o que não condiz com o que ele quer ou acha, é
errado.
Esse papo todo
de que aborto é errado porque não se trata só de você, mas também de uma vida
que está sendo fecundada dentro de você. O ponto não é apoiar o aborto. Ninguém
é a favor do aborto. Ninguém é a favor de fazer alguém passar por uma tortura -
física e psicológica – que isso é. O ponto é ser a favor da legalização dele. Criminalizar
o aborto não impede que ele continue acontecendo. Não se trata das suas
opiniões baseadas em religião ou política, se trata de impedir que mais
mulheres percam suas vidas todos os dias indo em clínicas clandestinas que mais
parecem matadouros. Legalizar o aborto não fará o número de abortos crescerem,
fará a taxa de mortalidade feminina diminuir. Não se trata de crenças
religiosas ou políticas, se trata da saúde pública.
É aquela velha
história do “se você não gosta de algo, não o faça”. Se é contra o aborto, não
faça um em você. Você tem todo o direito de ser contra ou a favor disso. Cada
um pode ter a opinião que quiser. Mas a mulher merece ter o direito sobre o
próprio corpo. Assim como você teve o direito de escolher ficar com o filho,
sua vizinha pode ter o de tirá-lo por não estar preparada pra ser mãe.
Uma mulher ter
feito sexo e engravidado não é motivo pra precisar lidar com essa consequência pro
resto da vida. Isso porque um filho não é pra ser consequência. O aborto é algo
muito maior do que “tirar um filho não planejado”. A parte psicológica é muito forte.
Estou escrevendo
esse texto depois de ter assistido a um documentário que mudou toda e qualquer
opinião que eu pudesse vir a ter sobre o assunto. É muito mais fácil apontar os
erros de alguém do que se colocar em seu lugar.
O documentário “CLANDESTINAS”
mostra a história de várias mulheres que fizeram um aborto. Cada uma com seu
motivo. É muito diferente quando vemos um assunto de um lado que não é o seu.
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