Cresci com pais separados que decidiram que não seria o fim de um casamento que os afastaria como amigos. O casamento continuou. No papel. Mas mesmo que o amor não tenha sido forte o suficiente pra separar todas as barreiras e obstáculos; o carinho, o respeito, a cumplicidade, a honestidade e a amizade prevaleceram.
É estranho pra quem vê de fora enxergar uma
situação dessa como “normal”. Mas afinal o normal não é menos normal por ser
diferente do habitual.
Duas pessoas que não se amam mais, continuarem
presas em um casamento?! Bem, a verdade é que essa é uma realidade tão
constante na minha vida que nunca parei pra avaliá-la. Claro que como toda
criança que convive com um determinado tipo de coisa, isso acabou me
influenciando de certa forma. Mas longe de ter sido uma influencia ruim. Quão
mais velha fui ficando, mais distante da fantasia de “felizes para sempre” fui
estando.
Nós somos acostumados a, desde pequenos,
acreditarmos que o amor e o casamento é algo que deveria durar para sempre. E
quando não dura, é sinônimo de fracasso.
Li hoje um texto da Martha Medeiros onde ela diz
que os pais precisam acostumar seus filhos a lidarem com os diferentes tipos de
relacionamentos e a falta deles. Ensinarem também que o casamento – ou mesmo um
mero namoro – não é uma algema que te prenderá até o fim da sua vida. Se der
certo, que lindo. Mas se não der, também é normal.
Convivo desde que nasci com pais que não dormem
mais juntos, não se beijam, não dizem “eu te amo”, não andam de mãos dadas e
sequer usam aliança. Mas por outro lado, um sempre dá apoio quando o outro
precisa, os dois não se desgrudam e enfrentam todos os problemas –
profissionais e pessoais – juntos, um ouve os desabafos do outro, tanto um
quanto o outro me dão bronca quando faço alguma coisa errada. Dia desses os
dois sentaram comigo no sofá pra dizer que não estava ajudando muito em casa e
que eu precisava me esforçar mais. Em todas as datas especiais como
aniversário, dia das mães ou das mulheres, meu pai surge com flores para minha
mãe. E em todas as datas especiais como aniversário e dia dos pais, minha mãe
surge com uma caixa de chocolates para o meu pai. Almoçamos todos juntos.
Passeamos todos juntos. Convivemos todos juntos, o tempo inteiro. Os dois construíram uma vida juntos, mesmo não estando de fato juntos.
É realmente estranho imaginar um casal que tenha se separado mas continuado na mesma casa, e ainda amigos, cuidando um do outro e de uma filha que tiveram juntos. Se minha mãe pensa em se apaixonar? Diz ela que não. Se meu pai pensa em correr atrás de outra mulher? Diz ele que está velho demais pra isso. Que duas – eu e mamãe – já lhe dão dor de cabeça o suficiente.
É realmente estranho imaginar um casal que tenha se separado mas continuado na mesma casa, e ainda amigos, cuidando um do outro e de uma filha que tiveram juntos. Se minha mãe pensa em se apaixonar? Diz ela que não. Se meu pai pensa em correr atrás de outra mulher? Diz ele que está velho demais pra isso. Que duas – eu e mamãe – já lhe dão dor de cabeça o suficiente.
A influencia que isso
tudo teve sobre mim foi muito positiva, ao contrário do que se imagina. Nunca
tive medo de terminar um relacionamento, por exemplo. Pelo simples fato de não
achar que estou fracassando por não ter dado certo, mas sim tendo coragem de
enfrentar uma situação que não me fazia mais feliz.
Aprendi que quando um
relacionamento foge do habitual estereótipo de comercial de margarina, não
significa que seja errado. Pelo simples fato de que nenhum relacionamento é
igual ao outro. Cada casal funciona da sua maneira.
O fato dos meus pais
não se manterem como casal não diminui minhas crenças no amor ou minha vontade
de um dia casar, ter filhos e até um cachorro. Porque aprendi a discernir o que
eu quero pra mim mesmo com uma realidade completamente diferente ao meu redor.
E se um dia eu me casar e não der certo?! Não deu. E minha vida não vai acabar
por isso.
As pessoas estão se tornando cada vez
mais carentes, cada dia que se passa. E quando elas não tem alguém a seus
lados, sentem como se tivessem fracassado.
O ser humano é uma criatura muito ampla
pra ter de se restringir a um determinado padrão. As relações humanas são
diferentes uma das outras. E diferente não é sinônimo de errado.
Apesar dos meus pais não formarem mais
um casal, são felizes juntos. Como amigos. Da maneira deles. E isso não nos
torna menos família do que meus vizinhos ou os seus.
Meu orgulho ♥
ResponderExcluirhahahahha maravilhosa <3
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