Pseudo felicidade de instagram



        Dia desses eu estava fazendo uma faxina nas minhas redes sociais. Excluindo fotos e posts antigos que julgo irrelevantes no dia de hoje. Não estava fazendo nenhuma seleção das coisas mais bonitas ou feias, mas sim das realmente memoráveis. Das que tinham um real significado por detrás de uma singela exposição. Comecei, então, a relembrar e analisar cada um dos momentos em que algumas das fotos que ali estavam foram tiradas. 

Uma das minhas melhores amigas, depois da caneta e papel, é a câmera. Mesmo sendo escritora por amor e genética, reluto em admitir que existem alguns momentos que nem mesmo as palavras conseguem descrever, e que só uma fotografia consegue expressar.

Ainda avaliando as fotografias das minhas redes sociais, percebi que pelo menos 80% do que estava ali era inteiramente superficial. Não retratava momento nenhum e nem significado nenhum. Percebi que a maioria das fotos não tinham nada agregado além da vontade de transparecer que minha vida era mais interessante do que de fato era. 

Acabei excluindo tudo o que não representava um significado real. E prometi pra mim mesma que a partir dali, eu só postaria alguma coisa se houvesse mesmo a necessidade. 

A verdade é que perdemos muito mais tempo postando sobre um momento do que vivenciando-o. É a famosa pseudo felicidade de Instagram. Tudo parece mais feliz, mais real, mais divertido, mais mais do que realmente é. Como se os momentos só existissem se os registrarmos nas redes sociais. Como se, se não tirarmos uma foto do prato de comida que comemos naquele restaurante italiano, não tivéssemos comido-o de fato. Se não fotografarmos a viagem àquela praia paradisíaca na qual fomos nas férias, não tivéssemos ido de fato. Se não tirarmos uma foto do beijo que demos em alguém que amamos, não o amamos de fato. Porque amor só é amor se todo o seu Facebook souber da tarde que vocês passaram juntos. 

Enquanto escrevo esse texto, me encontro no terraço da minha casa. Um terraço onde tenho o privilégio de uma vista lindíssima que engloba todo o meu bairro, uma cidade vizinha, e chega até as montanhas da serra. E só fui perceber a hipocrisia que estava cometendo quando um pássaro pousou bem em cima da tela do meu computador, me fazendo voltar a atenção para um espetáculo bem diante de mim. Enquanto eu estou com a cara enfiada no computador e fones de ouvido com uma música aleatória tocando, estava perdendo a cena de pelo menos dez pássaros dançando ao meu redor, com um canto lindíssimo. Minha primeira reação foi pegar o celular e fotografar esse momento. Então o que fiz foi fechar a tela do computador, tirar os fones de ouvido e guardar o celular. E apreciar essa cena tão única. Talvez se eu tivesse continuado escrevendo, ou mesmo tirado a tal foto, esse momento perdesse um pouco do encanto.

A realidade é que alguns momentos são tão nossos que o simples ato de não registrá-los os torna mais vivos ainda. Porque o tempo que teríamos perdido registrando-os, passamos aproveitando-os. E eles não serão menos reais por estarem apenas em nossas lembranças ao invés de em uma foto.



Nenhum comentário :

Postar um comentário