Tesão não quer coração, ele quer a pele



        As malícias dele quiseram-me desde que colocou os olhos em mim. E queria que soubesse, as minhas também. Minhas vontades chegavam a ser palpáveis. E talvez ele as tenha sentido antes mesmo de mim. E foram nossas vontades disfarçadas em brincadeiras que me puxaram para a sensação mais forte que eu poderia sentir em toda a minha vida.

Certa vez me disseram que nada era mais forte do que o amor. Nenhum outro sentimento. Nenhuma outra vontade. Nenhuma outra emoção. Nenhuma outra ação. Eu, com minha crédula ingenuidade, acreditei. Conhecia o amor. Sabia o mormaço que ele trazia pro coração. O aconchego com o qual ele acolhia a alma. A paz que levava o corpo. Pois afirmo, quem me disse isso certamente não conhecia o tesão. E eu também não.

Sou, desde minha noção de existência, uma pessoa intensa, movida constantemente pelo que me faz sentir viva. E como boa amante da intensidade, mergulho o coração e a libido dentro do que for mais quente. Passei a vida inteira não tendo medo de trocar o estável pelo que fazia a alma vibrar mais. Sou movida pelo que mais me faça arder. E foi aí que me apaixonei. Me apaixonei pela sensação que o tesão traz.

Faço blasfêmia do amor em nome do tesão. Porque não, nada é mais forte do que ele.

O amor te deixa morno. O tesão te queima. O amor te traz paz. O tesão te destrói. O amor te tranquiliza. O tesão te devasta. O amor te embala. O tesão te tira o sono. O amor acaricia sua pele. O tesão rasga sua carne. O amor te beija a testa. O tesão deixa roxos e arranhões por todo o seu corpo. O amor alinha seus cabelos. O tesão te despenteia. O amor entra de fininho e se aloja aos poucos dentro de você. O tesão chuta a porta e te invade como um furacão. O amor te faz sentir-se protegida. O tesão te persegue até nos mais inusitados lugares. O amor te move. O tesão te possui. 

Ele te faz perder as forças com um simples beijo. Ele não te satisfaz, não. Pelo contrário, te instiga mais. O tesão te deixa tão nervosa que nada mais importa, e nada mais deixa-te se concentrar. Te faz deixar de se importar com qualquer um que possa ouvir do lado de fora e gemer como se cada som fosse mudo e você precisasse gemer mais. Te faz abandonar todo e qualquer escrúpulo e mergulhar de cabeça. 

Por ele, você desistiria de qualquer valor moral que carrega dentro de si. Qualquer orgulho. Qualquer relutância. Qualquer credibilidade. Qualquer movimento contra o machismo. Foda-se o machismo, porque por ele você se tornaria a mais vagabunda, com direito a tapa na cara e submissão. Por ele você iria contra quem você mesmo é. Porque ele te entorpece tanto, mais do que qualquer droga, que te faz esquecer até mesmo da sua existência ou da existência de qualquer outra pessoa no mundo.

E eu, como boa amante dos sentimentos intensos, me joguei pro tesão e deixei que ele entrasse em cada milímetro da minha alma, mente e corpo. Coração? Ah, o tesão não quer coração. E nem eu. Como toda boa diversão, vamos deixar o coração de fora dessa brincadeira. Vamos deixar que o tesão cumpra sua missão... 

Deveríamos terminar..



Sinto meu corpo explodindo a qualquer momento. Sinto meu coração transbordar, meus órgãos derramarem, minhas veias arrebentarem, meus ossos partirem. Sinto cada centímetro do meu corpo esquentando e é como se eu fosse explodir. E a culpa é sua. Sinta-se muito culpado.

Não achei que gostar de alguém fosse me enlouquecer tanto quanto você me enlouquecesse cada dia mais. Temo precisar ser internada em um hospital psiquiátrico. E a ironia é eu cursar psicologia. Temo não aguentar e me derramar em você. E vá com um copo, pois isso irá acontecer. Sempre acontece.

Tenho 18 anos e sinto que vou morrer. Porque gostar de você dói. Dói muito. Me arregaça, me rasga, me dilacera. Mas eu não poderia viver sem essa dor. Essa dor que me queima. Essa dor que me arde. Essa dor que me provoca alguma loucura. Porque é essa loucura que me faz sentir viva.

E temo precisar te internar antes de mim. Pois minha loucura provém de ti. Provém das tuas malícias, das tuas insanidades, das tuas maldades, das tuas fraquezas, da tua paixão. De tudo que envolva a sua existência.

Precisei abrir o word no computador e despejar todas as palavras que sentia me entupindo e me afogando. Todas as palavras que transbordavam do meu corpo e me faziam querer morrer. Ou pior. Querer te matar. E foda-se se não fizer sentido algum. Sinto meu corpo explodindo a qualquer momento. E a culpa é sua. Deveríamos terminar.....


Terminar o que começamos na cama quinta passada. 

Quando tudo perde a importância e só nos resta eu e você - o mais importante.



(Coloca nos 00:15 e começa a ler)

        A noite calhou, e o céu parecia muito mais bonito da janela. Eu precisava levantar e beber alguma coisa. Não estava vestida, levantei e deixei que os lençóis caíssem pela cama, deixando a nudez do meu corpo exposta. Andei pé por pé, até chegar a porta. E olhei pra trás. Você dormia. Não como um anjo, não com delicadeza. Parecia que havia morrido. Estava jogado, com mãos e pernas abertas. E eu ouvia um pequeno ronco. Dei uma risadinha baixinha pra não te acordar. Sua audição é sensível e você desperta com facilidade. Algo que odeio um tantinho, por nunca poder gargalhar tão alto.

Passei pelo corredor e desci a escada de madeira na ponta dos pés. Sua gata quase me derrubou. Peguei-a no colo e deixei que ela lambesse meu nariz. Soltei-a e fui para a cozinha. Ali estava a nossa bagunça do jantar, com louças por lavar e cheiro do seu perfume com o resto de macarrão que não aguentamos comer. Esquentei chá de camomila e despejei uma colher de açúcar junto com muitos pensamentos.

O celular vibrou e era uma mensagem sua.

Volta pra cama. – Ri. 

Peguei o chá e subi as escadas. Você de bruços, com sua pele tão branquinha que a luz dos postes entravam pela janela e dançavam pelas suas costas. Coloquei a caneca com o chá em cima do criado mudo e subi em cima das suas costas devagarzinho. Você riu e virou pra mim. Ambos nus e separados por uma camada fina do tecido do lençol. Encostei a cabeça sobre seus ombros, e com a ponta dos dedos, enrolava os pelos do seu peito. Adorava cada um deles. Inclusive os da sua barriga. Passeava os dedos pela extremidade do seu pescoço, e depois percorri seu rosto delicadamente. Por aquela dobrinha que você tem debaixo do lábio, pelos seus olhos fechados, e pela sua testa. Acariciei os seus cachinhos e te dei um beijo. A luz ainda entrava pela janela e eu me encaixei em você. 

Meu quadril se mexia lentamente, e com as mãos você me segurava devagar. Meus olhos não se desgrudavam dos teus. E cada vez mais você me puxava pra baixo, como se quisesse que eu não desgrudasse de você mesmo por um centímetro. Como se você me quisesse só pra você, e pra ninguém mais.

E eu era. E eu sou. Mesmo quando destruímos os quartos de motel, e você me destrói por inteira, e fala que sou a sua putinha. E ali, dentro do quarto, eu sou mesmo. E sou tudo o que você quiser. Na cama você pode. Pode me chamar de puta, de piranha, de cachorra, de vagabunda. Pode dar na minha cara, e na minha bunda. Pode me deixar roxa, eu deixo. Até te peço para faze-lo. Pode deixar marcas pelo meu corpo. Pode puxar o meu cabelo até minha nuca doer. Pode me enforcar. Pode gozar na minha cara, na minha boca, nos meus seios e onde mais você quiser. Pode meter com força, pode meter com ódio, mas também com muito carinho e devagar. Pode meter como quiser. E como eu mandar. Pode me pegar no colo, pode me comer na parede, me comer no sofá, no chuveiro, e até no chão. Me deixa sem forças, ou me faça ter mais forças ainda.
Enquanto você estiver em cima de mim, pode fazer o que quiser. Mas não se esqueça de, no dia seguinte, me mandar mensagem de bom dia, me olhar nos olhos, e me beijar na testa. 

Pode me beijar até eu perder as estribeiras e querer dar pra você no meio da cafeteria. Mas quando a gente levantar, não se esqueça de segurar a minha mão e de me abraçar. 

E eu vou roubar sua camiseta e seus livros. E pode me roubar pra você quando quiser. E preciso te confessar que quando você vira de costas pra tomar banho, fico deitada na sua cama apreciando cada centímetro de você. Cada milímetro que você tanto odeia e que eu preciso te lembrar todos os dias o quanto adoro. E cada vez que você hesita e eu preciso te olhar nos olhos pra você acreditar. E sorrir com cada parte do meu corpo pra te provar que estou ali porque escolhi estar. Te lembrar que eu poderia estar ali com qualquer outra pessoa. Qualquer outro corpo. Qualquer outro homem. Melhor ou pior, não sei. Mas escolhi estar ali com você. Porque em um mar de pessoas, foi você quem me chamou atenção. Porque em primeiro plano, a aparência das pessoas conta sim. Mas não significam nada se não tiver o sex appeal mais forte que existe: o charme. Coisa que você tem de sobra. Já te disse que vou deixar um post it em cada parte da sua casa pra lembrar o quanto te acho lindo. Em cada centímetro da sua existência. 

Eu costumava pensar em muitas coisas, enquanto estava com muitas pessoas. Minha mente ficava rodeada de pensamentos, loucuras, confusões e preocupações. E, então, com você, as coisas deixaram de ter importância. E a única coisa que rodeava minha mente era o resto do mundo se apagando.

E ali, o silêncio rodeava a casa e o único som era o rangido que a sua cama fazia conforme eu me movia em cima de você.

Já ouvi falar em todo tipo de orgasmo. Daqueles que a mulher esguicha. Daqueles que ela explode em mil pedacinhos. Daqueles que o mundo some e ela quase adentra em sua própria subconsciência. Mas aquele foi um orgasmo de conexão. Um orgasmo entre os nossos olhares, entre os nossos sorrisos, entre as nossas expressões, entre as minhas mãos nas suas, entre o suor que trocávamos, entre os seus lábios e os meus. Não era fogo, nem tesão, nem paixão, nem amor. Éramos eu e você.

E vamos sempre ser. Só eu e você. 


Hoje busco-me por aí



        Sou muitas em apenas uma. Muitas formas. Muitas coisas. Muitas personalidades. Muitas mulheres. Muitas cores. Muitas vivências. Sou tudo o que alguém poderia querer, e também tudo o que alguém mais poderia repugnar. Sou tudo em apenas um corpo. Em apenas uma mente. Em apenas um ser.

Sou amor. Sou ódio. Sou desapego. Sou preocupação. Sou paz. Sou terror. Sou indecisão. Sou certeza. Sou tranquilidade. Sou explosão. Sou delicadeza. Sou guerra. Sou lago. Sou oceano. Sou grãos de areia. Sou estrelas. Sou o universo inteiro.

Sou filantropia. Sou feminismo. Sou justiça. Sou luta. Luta pelo direito de se poder ser quem é.

Hoje busco-me por aí. Busco-me pelos mais inesperados cantos. Pelas mais óbvias clarezas. Pelos mais desprezíveis escuros. Busco-me.

Sou muitas que não conheço e me predisponho a conhecer. Mas sou, principalmente, presa ao que já fui um dia e deixei de ser. Fui o que alguém me proporcionou viver. E me prendi a isso de tal forma que me anestesiei. E relutei a perceber.

Isso porque o ser humano tem uma mania desgraçada de querer se prender a algo bom que passou, e não aceitar o que pode vir. A quem pode vir a ser. Não podemos ser a mesma pessoa mais de uma vez. Porque mudamos. Crescemos. E a vida nos dá conteúdo o bastante pra viver em constante exploração e carregar cada experiência dentro de nós, para que nos transformemos. E nunca seremos uma versão pior, a menos que não deixemos que o mal entre. E o segredo é que nos abramos. Nos abramos para o que a vida tem a nos oferecer, para o que nós mesmos temos a nos oferecer, e para o que a felicidade tem para proporcionar, ao invés de nos prender a algo que já passou, e que precisa dar lugar a alguém novo.

E que paremos de nos prender ao passado. E que não aceitemos ser menos do que realmente somos. E que não nos reprimamos, porque quem precisa nos amar, nos amará pelo que transbordamos nas mais profundas essências da alma. E que gritemos pela felicidade, mesmo em público. E que gargalhemos. Nos mais altos tons. E que cantemos. E dancemos. E que sejamos. Porque ser é a coisa mais linda na existência de alguém. E que falemos alto. E falemos bobagem. E que falemos sério. Falemos tão sério a ponto de assustar alguém e fazer rugas na testa. Mas que brinquemos, também. A ponto de não conseguir conter o riso e ter cãibra nas bochechas.