Meu eu em um você

        Quero começar dizendo que sinto saudade de você. Saudade do seu cheiro, do seu toque, dos puxões de cabelo na madrugada, de andar ao seu lado na movimentada av Paulista. Sinto falta do seu beijo, do seu abraço, do seu físico e da parte de mim que você levou. Porque querendo ou não eu deixei um pouco de mim em você, mas bem pouquinho, eu sei. Eu me pediria de volta, mas acho que ela está bem melhor ai do que aqui.

Não digo que sinto falta das nossas conversas, o que eu sinto falta realmente era do sexo. Da pegada forte, dos roxos que apareciam no meu corpo pela manhã. Sinto falta do suor frio que percorria toda minha espinha, das noites de orgasmos e dos dias também. Sinto falta dos seus braços me levantando pelas paredes do meu apartamento, do cheiro do nosso suor misturado à outros odores humanos. Sinto falta daquele seu sorriso malicioso, daquele sussurro no ouvido e de deixar marcas das minhas unhas nas suas costas. Porque afinal era a única coisa que eu poderia sentir falta já que sua companhia de nada me valia.

Eu não tinha com quem discutir poesia. Você dizia que eu era uma tola apaixonada por museus e completamente careta por não gostar de festas-baladas-álcool. Você me achava careta até quando eu tinha um cigarro de maconha entre os dedos, dizia que isso era não era droga. Foi depois que eu percebi que só estava usando aquilo para conseguir entrar no meu mundinho e fugir um pouco de você. Eu não tinha ninguém que entendesse como era sentir-se arrepiado por um acorde de guitarra. Eu não tinha ninguém para compartilhar músicas novas e velhas - porque eu sempre amei música velha.

Mas eu tinha você e aquilo me fez bem por um tempo. Coloquei toda a falta do meu eu psicodélico em um você cheio de prazeres. Me sentia bem por ser sua acompanhante na balada mais cara de São Paulo. Me sentia amada quando outras garotas - muito mais gostosas do que eu, diga-se de passagem - começavam a te cantar e você me puxava de canto num abraço forte. Ah meu Deus, já falei do seu abraço? Ele me fazia tremer dos pés a cabeça. Sentia aquelas mãos forte me apertando a cintura e tinha vontade de ficar nua onde quer que nós estivéssemos.

Mas eu não consegui. Eu preciso daquele garoto simples, baixinho, tatuado e que tenha algo a me acrescentar - mentalmente. Eu sinto falta do seu físico, porque o seu eu mental eu não consegui encontrar. Somos de mundos completamente diferentes. Você é o garoto mais popular da rua Augusta. Eu sou aquela garota de filmes de romance que gosta de assistir documentários e discutir filosofia. Em que momento eu pensei que poderíamos ter dado certo? Todas as vezes que seus lábios corriam pelo meu corpo.