O cara que tocava All Star




        No final das contas, talvez eu goste mesmo. Do seu sorriso bobo quando canta errado aquela música do Nando Reis que fala sobre um all star azul. De quando você dá risada porque mando você sorrir pra câmera, enquanto te filmo tocando violão. Do jeito que você lida com as coisas. Com as minhas coisas, aliás. Porque você é péssimo lidando com os seus próprios problemas. Quase tão péssimo quanto eu. Mas é estranho como um consegue lidar muito bem com os do outro. Eu com os teus. Você com os meus.

No final das contas, talvez não tenha sido fingimento as coisas que eu dizia. Pra mim, pra você, pra todo mundo. Mas gostar não é sinônimo de paixão. De querer namorar, contar pra todo mundo, comemorar datas românticas ou querer receber flores. Gosto de você suficientemente pra querer tuas mãos nas minhas quando tudo estiver desabando, seus lábios nos meus quanto eu já tiver falado demais e o resto a gente resolve na cama.

No final das contas, talvez eu goste do seu cabelo quando você não usa gel e acha que tá horrível, mas na verdade me lembra os bad boys dos filmes dos anos oitenta. Da sua barba que, não sei porque, mas desconfio que começou a deixar crescer depois que te contei que era uma das minhas coisas preferidas no mundo. Barbas e violões. E você, pro meu azar, tem os dois.

No final das contas, talvez eu goste de como você se acha chato. Porque isso me dá a chance de te provar que você não é, e de te dizer o quanto eu gosto de passar o dia inteiro conversando com você. Da sua falta de senso de humor. Aliás, da sua falta de compreensão do meu senso de humor. Do jeito como você fica pra mostrar que quer me beijar. De você me mandando bom dia todos os dias e se importando quando minha resposta é "não" pro seu "tudo bem?". De quando você me diz que tudo o que eu te faço é bem. 

No final das contas, talvez eu goste de como não me sinto vulgar com você, como eu sempre me sinto com os outros. De como são divertidos os jogos que nós inventamos. Ou quando os dados que jogamos no tabuleiro são nossos próprios corpos. Talvez eu gostasse de quando você faz aquele olhar de malícia que você só fez uma vez. Não um olhar de safado, ou um olhar de pretexto. Apenas um olhar de malícia. 

No final das contas, talvez eu goste dos seus dedos que você tanto diz parecer de gente velha. Só não se esqueça que são esses dedos que fazem formar sons tão bonitos em cada corda do violão que você se arrisca a tocar.  

Então obrigada por ter me proporcionado isso. Por ter me proporcionado a chance de gostar sem me apaixonar. De estar não estando. De querer não querendo. De sentir tesão. De sentir ansiedade. De sentir apoio. De sentir amizade. De sentir desejo. De sentir você. De sentir tantas coisas, e ao mesmo tempo, não sentir nada. Cada parte e orgão do meu corpo quer uma coisa diferente de você. Mas todas querem a mesma coisa, querendo você. E isso, pra mim, é mais do que o suficiente. Pela primeira vez, é exatamente o que eu quero. E é por isso que no final das contas, talvez eu goste mesmo. Mas claro que gostar não é sinônimo de paixão. 





2 comentários :

  1. Eu acredito que são realmente essas pequenas coisas que fazem a gente gostar de alguém - não seu olhos claros, ou seu cabelo liso - mas coisas que só eles têm, que a gente consegue ver estando bem perto. E sim, gostar realmente não é sinônimo de paixão. Pelo menos pra mim, paixão é volúvel e passageira, e não liga pra nada além do superficial.

    Beijos, Luisa
    Degradê Invísivel

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, são exatamente os detalhes de cada pessoa que faz com que gostemos delas mais e mais. São os detalhes de cada pessoa que nos faz lembrar delas exatamente como elas são. Paixão é clichê demais para alguns sentimentos, às vezes eles simplesmente não tem um rótulo especifico hahahah

      Excluir