Quando precisamos nos desfazer

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        É tão estranho quando a vida te obriga a se afastar das pessoas por quem você mais tem respeito e carinho. É como se, quando você mesma não consegue dar um jeito de resolver seus problemas ou de tomar as decisões que sabe que deve tomar, a vida, e talvez todo o universo, desse um jeitinho de te dar um empurrão. Não um empurrão que te faz chegar pro lado, não. Um empurrão que te faz cair de cara no chão e ralar o nariz. Pra que você perceba que não deve mais insistir.

Mais estranho ainda é quando passamos tanto tempo acostumados com alguma coisa e, de repente, precisamos mudá-la completamente. Deixá-la completamente. É como se uma parte sua estivesse sendo tirada de você.

Às vezes passamos tempo demais dando atenção e dando segundas e terceiras, até quartas, chances para assuntos que já terminaram há muito tempo, mas que não percebemos. Corremos atrás o quanto podemos. Insistimos. Acabamos desistindo. Então, voltamos a tentar. Um ciclo que é interminável. Sempre queremos achar que ainda há solução. Só não percebemos que, em certos momentos, a melhor solução é não solucionar. É como eu li, certa vez, em algum lugar, algumas coisas não querem ser solucionadas.

Sempre fui o tipo de pessoa que prefere ver o lado bom das outras. Mesmo no meio de maldade, ainda assim consigo enxergar uma pontinha de bondade.

Ninguém nasce mau. Nós somos construídos de acordo com a vida que temos. Mas o que não entra na nossa cabecinha é que não precisamos aceitar a maldade dos outros. Nós aceitamos o amor que achamos que merecemos.

É difícil quando precisamos nos desfazer do que, por tanto tempo, foi nosso porto seguro, nosso motivo de sorrir, de sentir calafrios, arrepios na nuca e borboletas no estomago.É difícil quando precisamos enterrar algumas pessoas, por terem mudado tanto, que passamos a nem reconhecê-las. É difícil quando precisamos deixar ir embora o que, por tanto tempo, foi nossa fonte de amor e felicidade.

Pessoas mudam. Não podemos impedir que isso aconteça. Mas a partir do momento em que elas mudam conosco, e pra pior, precisamos saber que é a hora de deixar ir embora.

Tentar consertar as pessoas é o mesmo que comprar um sapato tamanho 35, sendo que você calça 38, só porque você o achou bonito. O que podemos fazer é deixá-lo na vitrine. Dentro daquela mesma loja existem muitos sapatos que, mesmo não sendo tão bonitos assim, cabem no seu pé.

A vida é muito curta pra passar muito tempo insistindo em um problema que não tem solução.

Podemos absorver das pessoas tudo o que nos faz bem. Mas quando essas pessoas não nos acrescentam mais nada, não existe mais nada para absorver. E o que fazemos quando não sobra mais nada de alguma coisa?

Nós jogamos fora.