Campanha da dove sobre a real beleza


        Com cinco ou seis anos, sempre fui uma criança mais complicada do que as outras. Não gostava de me arrumar, não gostava de ficar penteando o cabelo e muito menos de brincar de maquiagem. Sempre via minha mãe sentada por horas e horas arrumando os cabelos, passando batom, rímel, isso aquilo outro. Aquilo não me atraia nem um pouco. A hora do banho, então! Era uma tortura! 

Um dia tudo isso mudou. Era o primeiro dia na minha nova escolinha. Uma escola onde estudavam bem mais do que vinte crianças, como na antiga. E era tudo muito diferente. Eu era uma menina muito diferente. Enquanto eu era uma garota gordinha, com o cabelo escuro, sempre preso em um rabo de cavalo ou em uma trança e um rosto redondo, as outras meninas eram todas loirinhas, magrinhas, com os olhos claros e sempre com batom nos lábios. Eu era a esquisita. Desde então, sentia a necessidade de ficar, pelo menos, um pouco mais bonita, pra que ninguém falasse mal de mim. 

Incrível que quando era por mim mesma, eu não me importava, mas quando se tratava de uma comparação entre mim e as outras, a minha aparência era a coisa mais importante de todas.

Fico pensando.. Porque será que nos martirizamos tanto quando se trata da nossa aparência? Porque será que nos criticamos tanto e nunca estamos satisfeitos com nosso corpo quando se trata do lado de fora dele?

Quanto mais mudamos, mais achamos coisas para mudar. 

Passamos a maior parte da vida tentando alcançar uma suposta perfeição que nem existe de verdade. Quando pensamos em um corpo perfeito, a primeira imagem que nos vem a cabeça são aquelas modelos gringas magérrimas. Modelos que, na verdade, estão cheias de photoshop, maquiagem e sprays pra deixar a pele firminha. Porque nem elas mesmas acham que tem o corpo perfeito. 

"Mas a culpa é da mídia". Não, a culpa é sua! Quem escolhe se inspirar no que a mídia passa é você. Ela é como drogas. As drogas vão sempre estar lá, quem escolhe usá-las é você. 

Tenho estrias demais. Tenho celulite. Tenho pneuzinhos aqui do lado. Sou reta. Sou cheia de espinhas. Tenho sardas demais. Meu cabelo é seco demais. Meu cabelo é oleoso demais. Meu cabelo é crespo. Não tenho peito. Tenho muito peito. Minha bunda é grande demais. Não tenho bunda. Sou cheia de rugas. Meus olhos são minúsculos. Meus dentes são tortos. 

Acho que nós nunca estamos satisfeitos porque passamos a maior parte do tempo dando foco pro que temos de ruim ao invés do que temos de bom. Nós acabamos não tendo mais defeitos quando damos um jeito de transformá-los em qualidades. Então o pneuzinho que você tem passa a ser aquela coisa gostosa que seu namorado/namorada agarra quando vocês estão nas pegações. Seu cabelo seco passa a ser um jeito de usar um penteado despojado. O seu tipo físico pode ter a vantagem de usar determinadas roupas que os outros tipos físicos não podem. 

Nós estamos sempre mudando alguma coisa pra sermos aceitos pelos outros. Mas será que esses outros nos veem da mesma forma que nós nos vemos? Será que aquele defeito que odiamos não é a qualidade que o outro vê? 

Uma campanha feita pela dove foi feita há um tempinho com o intuito de mostrar que precisamos parar de nos cobrar tanto. Que precisamos parar de sermos tão duros conosco. Que nossos defeitos só existem porque nós os vemos como defeitos. Nós focamos tanta atenção em um detalhe nosso que ele acaba virando defeito. Quando paramos de nos importar com determinada coisa, ela deixa de ter tanta importância.



É pra se levar pra vida. É uma mensagem pra deixar entrar no coração e nunca mais deixar sair. É pra perceber que o que torna nossos corpos bonitos são os sorrisos que damos e não a plástica que fazemos. Assuma-se como você é. Porque, acredite, você nasceu do jeitinho que era pra nascer e você se transformou exatamente no que era pra se transformar.

Pensem sobre isso. Reflitam sobre isso. E aproveitem para se amar mais como vocês são, porque cada defeito que temos nos torna únicos. Cada defeito que temos é o que nos difere de todas as outras pessoas do mundo. 

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